![]() RIOCENTER, 30/ABR/1981 - A FACADA QUE NÃO DEU CERTO
Começa o anoitecer do dia 30/abril/1981. Vinte mil trabalhadores, alegremente, se preparam para as celebrações do dia seguinte: Primeiro de Maio. Dia do Trabalho. Quase o dia de uma enorme tragédia no Centro de Convenções do Riocenter. Artistas, os mais famosos do MPB, considerados comunistas e subversivos pelo então regime ditatorial, já se encontram a postos, convidados que foram para um belo show na prévia noturna da grande festa do Dia do Trabalhador.. ..... ..... ..... ..... ..... Ninguém ali sabe que algumas bombas de efeito letal já se encontram instaladas em locais estratégicos e secretos do Riocenter. A detonação ocorrerá a partir de uma voz de execução externa. Intenção dos terroristas, conforme confessaram mais tarde: provocar a dispersão do público logo nas primeiras explosões. Consequência esperada: pisoteio e morte de muitos dos celebrantes que, em correria, tentassem escapar pelo único portão de acesso. Alguns sobreviventes seriam presos e torturados, acusados de terrorismo. Salão repleto. Burburinho. Para os terroristas, a hora é chegada. "Melhor ainda se a dispersão daquela corja de subversivos acontecer na escuridão"... "Uma, duas, três, já!"... - Atira-se uma bomba contra a casa de força do Centro de Convenções. Tudo terá de acontecer em pleno apagão, conforme planejado. Upa, Deus não permitiu!!... A primeira bomba não detona. (Digo melhor: a facada falhou. Novamente, o "Adélio" faz de conta que acerta)... ..... ..... ..... ..... ..... No estacionamento do Riocenter, dentro de um carro Puma, uma dupla de terroristas descuidados tenta montar uma outra bomba, que acabou explodindo no colo e matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário. O capitão Wilson Dias Machado, sentado ao lado, feriu-se gravemente (perdeu uma perna). ..... ..... ..... ..... ..... Difícil escamotear um (ou mais um) verdadeiro ato terrorista cometido por militares do respeitável Exército Brasileiro. ..... ..... ..... ..... ..... Logo, logo, seus atores se disfarçam de técnicos do Centro de Convenções e desinstalam as outras bombas colocadas em pontos secretos do saguão, a essa altura totalmente esvaziado. Haviam fugido da morte todos os celebrantes, depois que Gonzaguinha pega o microfone e tenta esclarecer o motivo da detonação ocorrida no estacionamento. O ruge-ruge e a ânsia da fuga não os deixou reconhecer os atores da cena terrorista. Desfez-se, aí, a tão aguardada festa do Primeiro de Maio. ..... ..... ..... ..... ..... Mesmo com tudo devidamente esclarecido, o S.N.I. (Serviço Nacional de Inteligência) ainda tenta forjar evidências para atribuir o crime (morte do sargento, invalidez do capitão e incêndio do Puma) a "elementos" da esquerda. Costumavam assim proceder com o intento de encontrar motivo para a caça e prisão de "subversivos". (Subversivos, terroristas ou comunistas eram todos aqueles que renegassem o catecismo do então imperialismo norte-americano desde o macarthismo). Ocorrência quase igual se deu em 1966 no saguão do aeroporto dos Guararapes, em Recife, onde as bombas, quiçá semelhantes, dessa vez explodiram dentro de uma mala, matando dois civis e ferindo mais quatorze. Acontece que nesse dia era esperado, em Recife, o ministro da guerra, Arthur da Costa e Silva. Na SUDENE, ele anunciaria sua próxima ascensão à presidência da República. Inexplicavelmente, seu desembarque ocorreu no aeroporto Castro Pinto, em João Pessoa (PB), de onde seguiu por terra até Recife. Por quê???... ..... ..... ..... ..... ..... Depois que o capitão Wilson confessou sua participação e os detalhes planejados para o ataque terrorista, o caso foi ocultado (digo melhor: devidamente engavetado). Vários generais - cúmplices - de renome na ditadura militar, saem em debandada para a reserva remunerada. O caso depois resvala no general João Batista de Figueiredo, que, presidente, não conseguiu eleger o seu sucessor.
Fatos dessa magnitude deveriam alcançar visibilidade na história contemporânea do nosso país. A verdade ainda não se vestiu de verde.
Fernando A Freire Enviado por Fernando A Freire em 01/05/2024 Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 29/04/2025
Alterado em 30/04/2025 Comentários
|