Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

NOSSA DEMOCRACIA AINDA VESTE FRALDAS

 

 

No século passado, até 1930 - fim da República Velha - o Brasil viveu sob regime oligárquico, i.e, militares e ruralistas achavam-se donos do poder.  Mesmo assim, naquele ano 30, houve eleição para escolha do Presidente da República.  Concorreram:

Getúlio Vargas (que teve como vice o governador da Paraíba, João Pessoa, assassinado em Recife, em julho/1930)

e Júlio Prestes (que, quando governou São Paulo, legalizou o abono dos trabalhadores em suas ausências para tratamento de saúde).

Resultado: Prestes (60% dos votos) e Getúlio (40%).

Mas foi Getúlio quem assumiu, após derrubar Washington Luiz da presidência, apoiado por uma junta militar (Revolução de 30).

O getulismo impõe o Estado Novo - com amplo apoio militar - regime de excessão que o país viveu de 1930 a 1945.

Em fevereiro/1956, tentativa de golpe que ficou conhecida como Revolta de Jacarecanga.  Reação militar contra a posse do presidente eleito, Juscelino Kubstcheck, comprometido com ideias progressistas. 

Em dezembro/1959, nova tentativa de golpe militar, com participação dos conservadores, para retomada do poder.  Era o final do governo Kubstchek. A história registra como a Revolta de Aragarças.

1961/63 - Parlamentarismo por conveniência, depois rechaçado em plebiscito referendado pela nação.  Razão:  Jânio Quadros renunciara ao governo, em ago/61, e os militares e políticos conservadores não simpatizavam com o seu vice - João Goulart -, que, junto com Getúlio Vargas, fundou (em 1946) o Partido Trabalhista Brasileiro.  Esse partido, embora estrategicamente fundado e sempre dirigido por conservadores,  foi aos poucos se envolvendo com ideais das classes populares.  Carecia de um freio.

01/04/1964 - João Goulart é deposto e outra ditadura militar se implanta no  país por 21 anos.

Como se não bastassem tantos regimes de excessão, importa registrar que duas Guerras Mundiais (1914/18 e 1939/45) interferiram grandemente em nosso país:  política, ideológica, cultural, financeira e economicamente.

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Quase um século perdido - de censura, desumanidades, chibata, tortura, desaparecimentos, injúrias, deslealdades e assassinatos - sem o brasileiro experimentar ao menos uma colherinha de democracia.  O mal, a subserviência e os resquícios do escravismo viraram coisas normais.  O povo precisava ser mantido ignorante dos seus valores e do seu poder nas decisões do país.  Propositadamente, sobrou pouco tempo para o aprendizado democrático.

Não era de se estranhar que aquelas "forças" recalcadas do século XX não se rendessem. Isso ficou evidente quando, já no primeiro quadrante do século XXI, maus militares, ruralistas e saudosistas do poder pelo poder, tentaram começar tudo de novo. Os democratas reagiram. Bom sinal.

Mesmo engatinhando, estamos começando a sentir o quanto incomodam as nossas fraldas, i.e., estamos aprendendo que o prefixo DEMO é POVO e o que sempre vem depois, CRACIA, significa PODER.

Melhor ainda é saber que esse povo é diferente, pensa diferente; às vezes é hesitante, ambíguo, insensato;  outras vezes é preciso, claro e decidido;  ora ganha, ora perde;  ora se exalta, ora se aquieta;  ora chora, ora se alegra;  ora está feliz, ora entristece (...), de acordo com as circunstâncias em grande parte emocionais, mas interage e aceita essas variáveis (divergências) como absolutamente normais entre os humanos.  É esse comportamento solidário que o leva a defender a mais bonita de todas as causas

a causa democrática - sem ódio, sem preconceito, sem subserviência e sem demagogia.

Avante!!... 

Temos muito o que aprender até que, amadurecidos, possamos livrar-nos de nossas fraldas.

 

 

Para o texto: Democracia não conceituada é banal

De: Damião Ramos Cavalcanti

Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 01/10/2023
Alterado em 06/10/2023


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