Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

 

RIOCENTER, ABR/81 - A FACADA QUE NÃO DEU CERTO

 

 

Começa o anoitecer do dia 30/abril/1981.  Vinte mil trabalhadores, em euforia, se preparam para as celebrações do dia seguinte: Primeiro de Maio.  Dia do Trabalho.  Dia do Trabalhador.  Quase o dia de uma enorme tragédia no Centro de Convenções do Riocentro.  Artistas mais famosos do MPB, considerados comunistas e subversivos pelo regime ditatorial, convidados para um belo show na prévia noturna da grande festa.

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Ninguém ali sabe que algumas bombas de efeito letal já se encontram instaladas em locais estratégicos e secretos do Centro.  A detonação ocorrerá a partir de um comando externo. 

Intenção dos terroristas, conforme confessaram mais tarde provocar a dispersão do público logo nas primeiras explosões. 

Consequência esperada: pisoteio e morte de muitos dos festejantes que, em correria, tentariam escapar pelo único portão de acesso.  Alguns sobreviventes seriam presos e torturados, acusados de terrorismo.

O salão está repleto.  Burburinho.  Para os terroristas, a hora é chegada.  "Melhor ainda se a dispersão daquela corja de subversivos acontecer na escuridão"...  "Uma, duas, três, já!"...

- Atira-se uma bomba contra a casa de força do Centro de Convenções. Tudo terá de acontecer em pleno apagão, conforme planejado. Upa, Deus não permitiu!!...  A primeira bomba não detona.  (Digo: a facada falhou.  Digo melhor: novamente, o "Adélio" faz de conta que acerta)...

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No estacionamento do Riocenter, dentro de um carro Puma, uma dupla de terroristas descuidados tenta montar uma outra bomba, que acabou explodindo no colo e matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário.  O capitão Wilson Dias Machado, sentado ao lado, feriu-se gravemente (perdeu uma perna).

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Difícil escamotear o ato terrorista (ou mais um ato) cometido por um grupo de militares do respeitável Exército Brasileiro. 

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Logo, logo, seus atores se disfarçam de técnicos do Centro de Convenções e retiram as outras bombas instaladas em pontos secretos do saguão, a essa altura totalmente esvaziado.  Fugiram todos os festejantes.  A ânsia da fuga não os deixou reconhecer os atores da cena terrorista.  Desfez-se, aí, a tão aguardada festa do Primeiro de Maio.

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Mesmo com tudo devidamente esclarecido, o S.N.I. (Serviço Nacional de Inteligência) ainda tenta forjar evidências para atribuir o crime (morte do sargento, invalidez do capitão e incêndio do Puma) a "elementos" da esquerda.  Costumavam assim proceder com o intento de encontrar motivo para a caça e prisão de "subversivos".  (Subversivos, terroristas ou comunistas eram todos aqueles que renegassem o catecismo do então imperialismo norte-americano).

Ocorrência quase igual se deu em 1966 no saguão do aeroporto dos Guararapes, em Recife, onde as bombas, quiçá semelhantes, dessa vez explodiram dentro de uma mala, matando dois civis e ferindo mais quatorze.

Acontece que nesse dia era esperado, em Recife, o ministro da guerra, Arthur da Costa e Silva.  Na SUDENE, ele anunciaria sua próxima ascensão à presidência da República.  Inexplicavelmente, seu desembarque ocorreu no aeroporto Castro Pinto, em João Pessoa (PB), de onde seguiu por terra até Recife.  Por quê???...

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Depois que o capitão Wilson confessou sua participação e os detalhes planejados para o ataque terrorista, o caso foi ocultado (digo melhor: devidamente engavetado).  Vários generais - cúmplices - de renome na ditadura militar, saem em debandada para a reserva remunerada.  O caso depois resvala no  general João Batista de Figueiredo, que, presidente, não conseguiu eleger o seu sucessor.

 

Fatos dessa magnitude deveriam alcançar visibilidade na história contemporânea do nosso país.

Lamentavelmente, a verdade ainda não se veste de verde.

Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 01/05/2024
Alterado em 01/05/2024


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