Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

E A TENTATIVA DE GOLPE CONTINUA

 

 

"Quando for bom para o país, eu voto em projetos do governo"  - verdade ou engodo?

 

01  -  O que é "ser bom para o país" na concepção de um cidadão político de perfil conservador? 

Vejamos:

- É bom - para um país com mais de 203 milhões de habitantes - a manutenção de latifúndios (terras de sobra, não divididas, improdutivas, concentradas nas mãos de um só dono)?

- É bom - mesmo em terra produtiva - manter pequenos camponeses, pais de família, na condição de semi-escravos, sem direito a um chão para plantar (única coisa que aprenderam a fazer na vida), sem remuneração digna, sem direito a moradia, sem qualquer outro direito, logo, sem dignidade?...

- É bom ver o país retornar à velha prática assistencialista dos currais eleitorais, qual seja:  o voto de cabresto, negociado (toma-lá-dá-cá), de papel, em sufrágios fraudulentos (na contagem, com não raras impugnações de urnas e finais divulgados com atraso - duvidosos e contestáveis)?

- É bom que se privilegiem apenas os centros urbanos mais nobres com educação e cultura?

- É bom que se dê pouca importância à mulher no aspecto educacional, no sentido de anular o seu campo de liberdade no meio social, minimizando-a ou restringindo o seu aprendizado às obrigações domésticas e à preparação para o casamento (que ainda a mantém na condição de serva do homem, sob a conivência familiar, e ainda obrigada a respeitar fictícias interpretações religiosas sobre o matrimônio)?...

Em suma:

Conservador é um termo que designa o indivíduo ou partido político avesso a mudanças, favorável ao popular "status quo", ou seja, à continuidade das coisas exatamente como estão e sempre estiveram.

Sob essa mira, os que têm (salvo em acenos eleitorais) não devem se preocupar com os que nada têm. "Pobres sempre tereis entre vós" (João 12:8) - é a farsa repetida para garantir que Deus quer que assim seja, sim e para sempre. Essa convivência pseudocristã de aparente harmonia, que leva a um estilo de vida conformista e excludente - quase imutável, desde o colonialismo/escravismo - caracteriza em grande parte o posicionamento conservadorista hoje intitulado de Direita.  Sua ótica exclusiva vê a nação livre de quaisquer movimentos da sociedade civil.  O objetivo nacionalista que alardeia é voltado exclusivamente para o binômio:

autonomia nacional (preservação da propriedade, tradição e costumes) e

desenvolvimento econômico (eterno dependente do bom humor dos países industrializados), 

As potências industriais, estrategicamente, não têm interesse no crescimento econômico (via industrialização) de nenhum país concorrente.  Por conta desse sempre adiado e utópico desenvolvimento econômico (de fora para dentro), constata-se que, quando a Direita assume o poder, a classe social mais baixa é a que mais padece:  com a perda de direitos essenciais; com o desinvestimento na saúde, educação e cultura;  e, obviamente, com a pouca ou nenhuma participação nos ganhos (produtivos ou especulativos) do capital concentrado nas mãos de poucos.

O que se investe no vértice, quando muito, apenas garoa na base da pirâmide social.

 

 02  -  O que é "ser bom para o país" na concepção de um cidadão político de perfil "progressista"?

Vejamos:

- por não tolerar o conformismo de cidadãos indiferentes à cada vez mais profunda desigualdade social existente e evidente em seu país; 

- por não acreditar no altruismo de pseudopatriotas que fazem vistas grossas para a meritocracia praticada em todos os níveis das instituições governamentais e que tem como pré-requisito indispensável, ainda, o sobrenome da família (...),

Por essas e muitas outras práticas não coletivas que poderiam ser aqui inseridas, o "progressista" - ou o cidadão ou partido da Esquerda - luta por mudanças sociais e tenta promover transformações políticas e econômicas mais justas e que abranjam a população como um todo.  Um comportamento sobretudo democrático.

Considera que medidas econômicas e sociais não conservadoras são requisitos indispensáveis à melhor distribuição da renda, ao combate à pobreza e à dignidade humana. 

Governos esquerdistas preferem investir recursos na base da Pirâmide Social, porque forma e fomenta o mercado mais rapidamente, estimulando, por fim, o capital produtivo que se encontra no ápice da pirâmide.  

 

03 -  O que é "ser bom para o país" para um cidadão que, circunstancialmente, ora se posiciona à "Direita", ora se posiciona à "Esquerda"?

Trata-se de uma posição de centro aparentemente desprovida de componente ideológico.  Lamentavelmente, esse fiel da balança, salvo raríssimas exceções, tem pendido mais para o lado do benefício próprio.

 

04 - O que é "ser bom para o país" para aqueles que se posicionam como extremistas - seja de direita, seja de esquerda.  A estes, pouco interessa o bem do governo ou do país.  Comportam-se a todo tempo como negacionistas, pregadores do ódio e disseminadores das prejudiciais desinformações espalhadas via redes sociais.  Distinguem-se por seus discursos raivosos e muitas vezes baseados em argumentos inverídicos.

- Estimularam e apoiaram atos golpistas havidos na capital do país desde a diplomação do atual governo.

- Visitavam e apoiavam as mobilizações antidemocráticas que se localizaram à frente dos quartéis das Forças Armadas do país.

- Tentaram modificar a estrutura do governo executivo.  Queriam de volta a estrutura do governo anterior: sem o ministério da cultura; sem o ministério de povos indígenas; com redução das atribuições do ministério do meio ambiente; e outras violências mais contra a estrutura de governo do país.

Não seria isso uma interferência desleal e antidemocrática (digo: um golpe) do Legislativo mudando ao seu bel prazer a estrutura funcional de outra instituição democrática (o Executivo) o início de mais um golpe?

. . . . .

 - Se o golpe de 30/abril/1981 (bombas no Riocenter) tivesse dado certo, muitos democratas teriam sido assassinados, muitos torturados, presos ou deportados e a ditadura de 1964 ainda estaria no poder.

- O golpe da facada simulada, em 06/setembro/2018, rendeu elevados dividendos em votos.  Parece que o eleitor brasileiro acordou.  A mesma facada foi relembrada inúmeras vezes na campanha presidencial de 2022 para garantir nova vitória, mas não rendeu os mesmos dividendos de 2018, conforme os golpistas esperavam.  Nenhum problema.  Começaram tudo de novo.  A bomba no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, na véspera do Natal de 2022, quase explodiu.  Nenhum  problema.  Começaram tudo de novo.  A invasão da Praça dos Três Poderes, no dia 08/janeiro/2023, também em Brasília, por um quase nada ia propiciando a mais duradoura de todas as ditaduras em nosso país. Uma ditadura que iria passando de pai para filhos.  Quem sabe, duraria até pelo menos o final deste século.  Felizmente, as instituições democráticas reagiram em tempo hábil, harmonicamente unidas, e mais esse golpe foi debelado.

Assim como aconteceu com a escravidão, todas as ditaduras deixam raízes vivas no subsolo.  Precisamos estar atentos para extirpá-las em tempo.

 

"Os filhos das trevas são mais astutos do que os filhos da luz" (Lucas 16:8).

 

 

 

Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 29/06/2023
Alterado em 01/07/2023


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