Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

NO NORDESTE, FEZ-SE A LUZ


Sou nordestino. Faço minha análise à beira de açudes ressequidos, não de piscinas avolumadas de água desperdiçada...

Permitam-me começar por uma Abolição da Escravatura da qual - enquanto sobreviventes das regiões ditas "incivilizadas" - só tivemos vagas notícias. Nessa história em quadrinhos, simples carta assinada por uma linda princesa.

Abolição?
Escravos que continuaram sem nada, dependentes exclusivos da servidão. Mesmos trabalhos, mesmos trapos. Comida ainda na gamela ou no cocho do gado...

Esperança:
A CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), promulgada em 01/05/1943, abrangendo todos os "trabalhadores do Brasil", conforme Getúlio Vargas.

Nada!
Nenhum amparo (via CLT) para os servos das casas grandes: lavradores, estivadores, domésticas... 

Utópica libertação, se a compararmos com a dos EUA, com Lincoln:
- Lá, escravos foram indenizados com terra, gado, numerário...
- Aqui, nem direitos do trabalho!

Em 1991 (após a derrubada do Muro de Berlim), prevendo tensões sociais no mundo, o Banco Mundial apresenta um programa de distribuição de renda a níveis humanos. Os conservadores (donos das terras e dos votos de cabresto) reagiram.

O governo brasileiro somente o experimenta a partir de 1994 (Bolsa-Escola). Bom início, seguido, paulatinamente, de outros auxílios semelhantes.

Deixou-se-o escapar para as mãos dos progressistas, que não só abraçaram e ampliaram o tal programa como fizeram dele sua bandeira de luta (Bolsa-Família).

Somente com a adoção desse programa, pouco e pouco, o chicote e a miséria foram dando vez ao desenvolvimento sócio-econômico.  Norte e Nordeste passam a crescer alguns pontos acima da média nacional, tornando-se proficientes importadores de mão de obra...

Não podia ser diferente o nítido reflexo nas urnas: de resultados finais não tão alvissareiros para os conservadores, foram votos nascidos nos portões das indústrias de grande porte, estaleiros, montadoras... e, o que mais importa, nascidos também nas bibliotecas das escolas técnicas e universidades hoje comuns naqueles rincões.

Essa realidade, pouco aceita por algum eleitor leigo ou desavisado, implica opções:

a) continuamos libertando os oprimidos ou abastecendo os abastados?

b) lutamos pela crescente partilha da renda ou por sua perversa concentração?

c) igualamo-nos numa luta solidária contra a pobreza - conforme o World Bank já observara há 23 anos -  ou alimentamos um egocentrismo tolo e humilhante que já dura cinco séculos?...

Puxados pela mídia, no primeiro turno, tivemos uma mudança tipo "direita, volver!".  Elegemos um novo Congresso:

50% milionários + 30% militares + 10% evangélicos + 10% outros
.

Lembro que os milionários do país constituem apenas 10% da população.  Representam-nos?  A quem representam?

Tem mais: a classe milionária figura no topo da pirâmide social, que abocanha 50% da renda nacional.

Dentre os privilegiados desse aurífero topo, figuram os donos das comunicações (revistas, jornais, TV) e os invisíveis corruptores.

Evidentemente, temem eles (os 10% da população) a verdadeira abolição da escravatura que, aos trancos e barrancos, agora se alavanca e - quem sabe! - já estremece a base da pirâmide.  Esses  10% não vão às ruas, mas suas bandeiras tremulam nas mãos dos incautos, inocentes úteis ou cegos míopes - seus admiradores.  Sem dúvida, utilizam os mesmos ingredientes da pseudo-mudança que pariu o novo Congresso.

Conscientizarmo-nos - acredito - seria a melhor opção.

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Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 08/11/2014
Alterado em 13/11/2014


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